31 dezembro 2007

Tá chegando...


O ano de 2008 já bate a porta. Todos se programam para as sete semestes de uva, o pulinho sobre sete ondas, e as metas para o ano que vem.
O aluno promete estudar no ano que vem.
A garota vai parar de comer chocolates e emagrecer.
A mãe jura de pés juntos que vai se livrar da crise financeira.
O pai diz que não vai mais ser tão ausente.
O prefeito garante pavimentar o pedaço da rua.
O ladrão jura que não vai mais roubar gente simples.
O fumante promete deixar o cigarro.
O presidente promete desenvolver o país.
E eu juro que ainda escrevo algo que preste aqui.

E quanto aos pedidos?
Um pede um amor, outro pede harmonia. Aquele lá pede uma paixão forte. A menina quer afastar o mal olhado. A vovó ainda clama pela esperança. Muitos pedem dinheiro.
Mas todos, absolutamente todos, pedem paz.
Desejo a vocês um melhor 2008, na medida do possível.

27 dezembro 2007

Sobre a trilogityum cronicum

Já repararam no surto que deu nos produtores hollywoodianos? Como se fosse lei decretada, todos os produtores resolveram transformar absolutamente todos os filmes em trilogias! Não que O senhor dos Anéis seja ruim, ou muito menos o Shreck 1, 2 e 3. Mas forçar o adorador (que tem bom senso) da oitava maravilha do mundo a ir para o cinema como quem vai para casa ver o próximo capítulo da novela, é demais!
Sim, muito eles lucram dividindo suas obras e adaptações, mas o que houve com aquela incrível habilidade de sintetizar as coisas?! Vejam bem, Desventuras em série, livro com umas 13 edições, perfeitamente adaptado em um único filme! E bastante entendível! Perfeito! Um primor! E com a bela atuação do notável Jim Carrey. O que os impedem de fazer filmes bem feitos e sintéticos?
Não, eles preferem repetir o homem-aranha, deixando-o cada vez mais emo e seus vilões mais chorões. Colocam aquela coisa verde e insossa do Huck pulando aqui no Brasil (no inescrupuloso Brasil, pois sim, vão acabar com nossa imagem mais uma vez, êta inveja). Alopram na brucharia daquele nerd metido a gostoso com sérias tendências homossexuais. E tentam explicar a poeira estelar citado no Mundo de Sofia agora com uma garotinha absolutamente arrogante na Bússola de Ouro.
O que não faz o dinheiro. Sim, eis a causa. O gasto é muito grande, mas o retorno é infinitamente maior! Nossa geração foi contaminada pelo vírus "soap-operae" e viramos infames dependentes psicológicos das novelas. Ok cabe corrigir, vocês! Eu detesto novelas. E por isso a partir de hoje também detesto trilogias, “quatrilogias” e qualquer novo filme seqüenciado que surgir! Os velhos eu mantenho sobre meus cuidados, Shreck é perfeito.
Um dia isso há de mudar. Os tempos mudam, sempre! Só Malhação que ainda insiste na receitinha básica para se manter ao longo desses 12 anos, e, acreditem ou não, ainda funciona. Afinal de contas, metade do país é jovem, e como de praxe todos têm seu momento Malhação.
Então acordem! Rebelem-se! Baixem os filmes vazados pela internet! e assistam curtas!
Sim! Viva os curtas! Últimos suspiros da genialidade e da criatividade humana! Valiosos vídeos super significativos e excepcionalmente irreverentes esquecidos nas boas páginas da internet, ou perambulando sujos e baratos pelo poluído Youtube.
Vejam SodaSexo, curtam A Sauna, Desirella, Amor!, A alma do negócio. Visitem o Porta Curtas da Petrobras, se deliciem com as animações do Anima Mundi, comprovem a criatividade humana no Curtagora. São gratuitos e muito bons.
E se curta metragem realmente não for sua praia, pelo menos veja um filme brasileiro (NÃO OS DA XUXA OU DO DIDI!!!)...eles ainda estão a salvo, a epidemia não os atacou.
Um 2008 melhor para todos. E mais prático.

30 novembro 2007

Ces't La Vie

Aos dois anos percebe as diferenças entre seu corpo e da coleguinha.
Aos quatro aprende que existia sentimento.
Aos seis se apaixona pela primeira vez.
Aos seis ainda, teve sua primeira namoradinha, embora esta não o soubesse.
Aos sete, seu primeiro selinho do "tou no poço".
Aos oito, sua primeira edição playboy de presente do primo mais velho.
Aos nove tem sua primeira namoradinha de verdade.
Aos 12 dá seu primeiro beijo de língua.
Aos 15 vai pela primeira vez ao bordel com o tio fumado.
Aos 16 traçou a primeira garota que não era vagabunda. Agora seria.
Aos 17 namora dez garotas.
Aos 18 namora uma...que namorava cinco.
Aos 19 quis se matar.
Aos 20 quase se mata.
Aos 22 já havia traçado todas da cidade. Todas mesmo. Sua mãe estava morta. Não tem irmãs.
Aos 24 pensou seriamente se era verdade o mito da idade. Constatou que não.
Aos 30 continua solteiro.
Aos 35 faz dois anos que não transa.
Aos 40 revê sua primeira namoradinha. Aquela que não sabia que era.
Aos 40 lembra o que é sentimento e se casa.
Aos 41 teve uma filha.
Aos 42 tenta se matar.
Aos 50 sua mulher adoece.
Aos 60 sua mulher morre.
Aos 61 anos bota a filha pra fora de casa junto do vagabundo do porteiro que a traça há 4 anos.
Aos 65 descobriu sua filha empresária de sucesso.
Aos 70 ainda não conseguia pedir desculpas à filha.
Aos 75 esqueceu as diferenças entre o corpo masculino e feminino.
Aos 75 descobre o que era AVC, lar do ancião e fralda geriátrica.
Aos 110 anos só pensa em se matar, mas sempre esquece de fazê-lo.

27 novembro 2007

bancando a LILI

Ensinaram certa vez que devemos pelo menos uma vez na vida (adulta) voltar a tomar banho de chuva. E não vale aquele banho maldito de quem vai ou volta do trabalho com documentos importantes que obviamente não podia molhar, mas aquele bem caprichado do sem noção que se joga na poça mais próxima da patricinha escondida num canto coberto durante um show de rock, jazz, blues, ou qualquer merda que seja em local aberto.

Bom, caso você não seja daqueles robôs bloqueados pelos "bons costumes" da população, o banho pode sim ser aquele de quem volta ou vai para o trabalho (você sabe o resto), desde que:
1- você faça pelo menos um barquinho com uma página do tal documento;
2- pegue um transporte coletivo bem cheio de pessoas quentinhas e secas e passe pelo corredor espaçocamente feliz;
3- e claro, que tenha a certeza de que seu chefe vai demorar pelo menos mais uma hora para você arrumar uma boa desculpa para a página arrancada do documento estragado.

Então devemos tomar um banho, um bom e demorado banho de chuva para burlar a rotina. O banho de chuva passa da fase da limpeza parcial (bem parcial) do couro cabeludo e da sensação pegajosa dessa roupa que você nem gosta tanto. Trata-se de um momento de elevação espiritual. É o momento que dá aquela tênue vontade de soltar um pum bem quente que certamente seria notado pela bolha formada na roupa antes colada ao corpo e o odor característico que se espalharia por todo o ambiente fechado do transporte coletivo. É o momento em que acontece algo sumariamente vergonhoso e não te incomoda, pois você está feliz.

Tomem banho de chuva, meus amigos. Soltem puns e arrotos constrangedores. Paquerem o manequim da loja, ou dê petelecos em suas orelhas como alguns felizes já fazem. Ninguém vai entender, você vai ser mal visto e não vai ganhar nada com isso. Mas lembre-se: você também não poderá ser preso, ainda.

20 novembro 2007

EU FAÇO E PONTO FINAL!

Hoje o blog será meu diário: Alguém muito importante questionou o meu perfil. Essa pessoa afirma que sou alguém aérea, fora das realidade da sociedade vigente. Não posso questionar a filosofia dessa pessoa, ela tem pleno direito de pensar diferente. Afinal de contas, foram criações diferentes, em universos diferentes, mesmo que tivéssemos nascido juntos, feito irmãos siameses, não seria igual. Nunca é.
Então, o que me resta dizer a essa pessoa, é que me perdoe, mas não concordo com ela, e não o farei até que eu, sozinha, esgote todas as minhas forças para lutar pelo que acredito. Talvez não dê em nada, mas talvez algo grande, médio ou pequeno aconteça e me satisfaça.

"Já de saída minha estrada entortou, mas vou até o fim"
Espero que entenda.

Eu não faço isso por que não tenho o que fazer
eu não faço isso por que vivo no mundo da lua
eu não faço isso por que ganho algum dinheiro
eu não faço isso por que quero ser beatificada
eu não faço isso por quer quero chamar atenção

EU FAÇO ISSO por que vejo um propósito
eu faço por que alguém tem que fazer
eu faço por que já precisei
eu faço por que tem quem precise
eu faço por que me traz conhecimento
eu faço por que tenho MENTE ABERTA
eu faço por que não estão caindo meteoros para ser o fim do mundo
eu faço por que se todos abandonarem a causa, será o fim do mundo
eu faço por que como qualquer pessoa, necessito de alguma esperança para não beirar à loucura


como diria Madre Tereza de Calcutá

"Muitas vezes o povo é egocêntrico, ilógico e insensato.
Perdoe-o assim mesmo.
Se você é gentil, o povo pode acusá-la de egoísta, interesseira.
Seja gentil assim mesmo.
Se você é uma vencedora, terá alguns falsos amigos e alguns inimigos verdadeiros.
Vença assim mesmo.
Se você é honesta e franca, o povo pode enganá-la.
Seja honesta e franca assim mesmo.
O que você levou anos para construir, alguém pode destruir de uma hora para outra.
Construa assim mesmo.
Se você tem paz e é feliz, o povo pode sentir inveja.
Seja feliz assim mesmo.
O bem que você faz hoje, o povo pode esquecê-lo amanhã.
Faça o bem assim mesmo.
Dê ao mundo o melhor de você, mas isso pode nunca ser o bastante.
Dê o melhor de você assim mesmo.
Veja você que, no fim das contas, é entre você e Deus.
Nunca foi entre você e o povo."

02 novembro 2007

Rimas pobres da vaidade

Se corre desesperadamente,
não tarda e se rende.
Se come com tamanho alvoroço,
joga tudo no esgoto.
Se não liga para os tamanhos,
nem é banha, nem é osso.

23 outubro 2007

Abel

Seu nascimento foi invitro, dele e mais 59 em um mesmo dia. A densidade demográfica era tanta que metade morria na mesma semana. Abel não quis assim.
Era diferente dos demais, era inquieto, não entendia toda aquela confusão. Ía de um extremo ao outro procurando uma forma, um caminho que o levasse longe dali. Não tardou para que desistisse, era terrível o quanto limitado era aquele lugar!
Até que um dia algo novo surgiu no lugar. Aquela enorme rede amarela apavorava a todos, perseguindo vorazmente pobres seres para...para sair dali! Abel imediatamente recorreu ao mais antigo da aldeia. Impacientemente puxou o pobre senhor levando-o para fora da sombra apontando para a enorme rede que ainda não havia capturado ninguém. O velho de nada sabia.
Há tempos todos daquele lugar estavam abandonados, sujos, famintos. Suas únicas fontes de alimentos eram aqueles que não sobreviviam nas primeiras semanas, uma realidade inimaginável para Abel. Este comia as folhas e talvez por isso fosse tão pálido e apagado, sendo alvo de intermináveis gozações.
A rede então para. Inerte, Abel sente a terrível angústia de viver ali e o imensurável medo de partir. nunca foi além dos limites. "Não vá!Sufoca!", diziam. Ele foi.
Ato talvez inacreditável para a imensa rede, que ainda custou a se mover. De súbito, Abel, envolvido pelas cordas amarelas foi acometido de uma apnéia tão profunda que pensou estar sentindo a morte daqueles que viu partir nas primeiras semanas de vida, na boca de seus conhecidos. As cordas arrancavam-lhe as vestes ferozmente e uma luz e uma massa quente e seca pareciam lhe absorver a vida.
Abel contudo não lamentava. finalmente vira além daquele pequeno universo verde e escuro em que vivia. Objetos e seres extraordinariamente atraentes surgiam sobre seus olhos ardidos até que a rede sumiu. Se desespera. Uma grande pressão o puxou para baixo. Já exausto da esperiência, Abel desmaia. Já não consegue respirar.
Quando acorda, crédulo de sua morte, o jovem repara uma multidão a observá-lo. Assustado, se recolhe a uma pequena gruta próxima de onde estava. Era diferente, imensos e inúmeros seres o rodeavam. Era assustador, mas era bonito. Escondido, Abel aguardou até que partissem, até que pode ver: um lindo universo ilimitado diante dos seus olhos.
Esquecido do cansaço e de todo o desespero que acaba de sofrer, Abel parte velozmente para conhecer os limites daquele imenso lugar farto de alimentos e animais tão grandes como jamais visto antes. E como num passe de mágica, sua alegria infantil lhe traz de volta as cores que nunca vira antes em seu próprio corpo. Abel estava em casa, como nunca esteve antes. Longe da sujeira e do horror em que nasceu, sentiu seus sentidos vivos pela primeira vez.
De longe, Sophia observava atentamente todos os passos do pequeno peixe. Certificada a tolerância do peixe à água, a pequena menina de sete anos retorna à casa abandonada para trazer o restante dos Acarás. Aqueles que mais tarde fariam de Abel um imenso banquete de comemoração ao novo lar.

27 setembro 2007

IARA SUBURBANA

Agita a mecha loira que faz o olho coçar. Abaixa a cabeça enquanto ri para não mostrar muito. Brinca sem medo e sem malícia. Põe a mão na cintura. É expressiva.
Dá sinais,mas não porque quer, pelo contrário! Não quer aparecer, sequer pertence a aqui! Mas a genética não lhe permite parar. Em cada gesto, por mais encabulado e comedido que seja ela passa sinais, ela seduz.
Não é bonita ou formosa o suficiente para tanto: são seus atos. Conseqüências da combinação perfeita da genética de uma mulher alfa com a de um galante boêmio, desenvolvidos ao longo de abusados e sofridos anos de sua (d)existência(?). Resultou na fórmula perfeita da sedução gratuita. Uma máscara indestrutível em defesa da desestrutura do seu ser. Agora causa suas conseqüências.
Já não se permite encabular; não se permite ignorar. Seu comportamento inquieto confunde deixando passar por cínica aquela atitude que seria tímida. Não dá tempo de perceber, seu rosto logo muda. Sua boca retruca com prontidão o “atentado ao rubor” de outrem.
Mas a desmedida ama. E o faz com toda intensidade e lealdade que se pode imaginar, o que não muda os fatos. Aquele que a acompanha, ou igualmente confunde, ou beira à loucura (não que a primeira opção seja muito saudável). “O que ela pensa?”; “O que está fazendo?”; “Por que está fazendo?”; “Será que...?”; “Ei! Para!”; “Você! Sai!”... enquanto a infame pensa na cena daquele filme que há muito não vê.
O que se pode fazer? Ela tem consciência! Pode até ensaiar um progresso, mas não adianta. Sua angústia consumida em segredo por pouco não revela a insatisfação de se perceber. Então aguarda. Torce pela paciência de um dia fazer sua sina acabar, ou pelo menos, ter alguém com quem estar... Estável.

04 julho 2007

Além

Nasceu da necessidade destrutiva de Hades. Consumia a vida em segundos, sem guardar nada pra si. Era morta. Sugou a essência naturalista de cada ninfa. Tragou a vida de Oceano bem como seus súditos. Não longe, arrancou o brilho de Selene e calou os uivos de Zefiro. Acabou com cada divindade sideral sem dó, sem erros.

Conseguiu. Coletou cada pobre alma para Hades. Nem mesmo as divindades primordiais escaparam de sua fúria. A beleza de Afrodite ou a sabedoria de Atena nada puderam contra seu veneno. O arauto Hermes bem tentou fugir, mas suas pequenas asas corroeram antes que pudesse pensar. E ao fim, fora descartada. Hades nada mais tinha o que lhe pedir.

Mas logo que dispensada sua criação, lhe veio a preocupação: seu veneno tão potente poderia lhe tomar o juízo. Rápido, ele teria que aniquilar aquela mosntruosidade. Ele não poderia morrer. Descuidado Hades, temendo seu fracasso, cuidou de criar a criatura mais resistente que nem mesmo Zeus pudesse matar. Irritado e amedrontado com seu deslize, tratou de guardar a fera no mais profundo fosso do mais distante vale, envolto do mais congelante gelo e dos mais resistentes metais. Sabia que nada mais podia contra essa criança faminta que de nada se alimentava, mas não podia desistir, seu reinado finalmente começara.

Não tardou para que a fera se soltasse. Fato era que a náusea das tantas vidas que sugou, fê-la hibernar por alguns meses. Mas agora acordada e irritada com o desprezo de seu criador, a criatura derreteu todo o gelo e os metais que deveriam prendê-la em poucos segundos, seguindo rapidamente aos céus onde se encontrava agora o "seu senhor", que fora novamente descuidado e esquecido: morreu.

De tanto soltar seu veneno, o monstro agora via-se mergulhado em solidão...Procurou além do nada o que mais corroer e destruir. Desintegrou-se na tristeza do não conseguir. Aniquilou sua razão de existência, extinguiu seu "alimento" (embora sentisse fome da vida, não podia digeri-la, e a matéria não lhe parecia apetitosa).

Por fim, sucumbiu no deserto fétido, repleto de defuntos. Vomitou as vísceras confusas de seu templo. Não suportou sua condição. Mordeu-se por fim. Infelizmente, Além já era morta. Além era imune.

16 junho 2007

Duduca em: desventuras em Série

5h30 da manhã Duduca acorda. Vai trabalhar. Sobe para o ônibus lotado na Zona Norte, seguindo até o trabalho na mesma posição. Cabeça esticada para cima, evitando odores comuns no ambiente. Braço cansado, meio dormente, fixo no corrimão alto quase inalcançável. Duduca é Baixo, 1,65m de altura. Como sempre acaba encostando por um segundo em alguém que o olha com nojo e tenta inutilmente se afastar. Com mais de 50 pessoas em pé não há como evitar contato.
Duduca, na verdade é Fábio. Tem 24 anos e é casado com Érica, que entrará na história mais à frente. Um dos seis filhos de Letícia, lavadora de roupas e ama de leite em muitas oportunidades, Duduca mal se recupera do trauma do mês passado: sua mãe e sua irmã mais velha, Fabiana, foram assaltadas perto de casa. Um homem levou a bolsa da mãe, apontando-lhe um 38 – muito comum na zona norte – e por um segundo sua dignidade (não havia necessidade de chamá-la de “rapariga”, isso que quase o mata).
Ele lembra; tenta imaginar a cena. Raiva. Melhor pensar em outra coisa. E segue sua rotina. Desgasta o corpo e se distrai no horário de almoço com amigos, comentando a desgraça do último jogo do América, que levou surra do Figueirense (3x0), no Nogueirão. Acaba o expediente. Voltar pra casa.
A linha é 07, passa pela Alvorada. Do jeito que vai, volta. Lotado, mal cheiroso. São 19h30 e entram três passageiros, ali próximo à ponte de Igapó. Dois passam logo para a traseira do ônibus e um fica diante do cobrador. Anuncia-se o assalto. De modo frio e um tanto meticuloso o assaltante da frente manda todos os passageiros que até então estavam em pé se deitarem no chão. Desta vez Duduca está sentado em uma das cadeiras, lá trás, junto à janela. Sem pensar em mais outra coisa, agarra-se à velha bolsa e põe-se a rezar. Com olhos esbugalhados vê o que acontece.
Inoportunamente um dos passageiros faz movimento brusco enquanto tenta se deitar. Um dos assaltantes, adolescente, nervoso, começa os disparos. Da frente e por trás surgem os zunidos. As balas apavoram a todos que não contém gritos e choros. Duduca está calado, pasmo, sujo. O homem estava próximo. Ao seu lado, um pouco mais a frente. Seu parceiro de banco também foi atingido, no pescoço. Por pouco não perfura a Aorta. Foi de raspão, não era seu dia.
Duduca treme, dos pés a cabeça. O tumulto era tanto que mal pôde ver o desfecho da situação. Vários passageiros conseguiram agarrar o adolescente. Os outros dois fugiram. Só pretendiam assaltar o cobrador. O resto não interessava. Conseguiram.
No dia seguinte Duduca saberia que na verdade o passageiro alvejado teria reagido, não somente se esquivado de forma brusca e que seu nome era Francisco Dias. Os olhos pregam peças. Mas não importa, o que importa é que Duduca consegue chegar em casa. Trêmulo e mais gago que o normal. Chega à sua ruela com dificuldade. A Família se assusta. A mãe sente dor no peito: “o que houve menino!? Pelo amor de deus fala!”. “O-o-o...ass...”...depois de uns minutos explica. Um tanto tarde para a mãe que já se via com pressão baixa fitando o sangue derramado na bolsa de seu filho: “graças a meu bom deus não é seu sangue. Que mundo meu deus. Somos mesmo é velas acesas ao vento”. Interessante como em pequenos insights pessoas comuns soltam frases tão fortes e aterrorizantes.
Passa-se o susto. Não para ele. Nem para sua mãe, mas a família agradece e se põe a sorrir. Érica, esposa de Duduca, decide ir à padaria. Leva a cunhada mais nova, Mariana (que logo passa batom e calça uma sandália melhor para exibir sua beleza juvenil diante do paquera). Vão. Mal passados dois minutos. Disparos: um assalto a carro. Todos correm para a rua principal. “Ai meu deus! As meninas tão ali!”
Por sorte não se feriram. A correria das pessoas pelo contrário parecia mais perigosa do que as poucas balas direcionadas com precisão ao dono de um carro popular, cuja marca, relata o rapaz, não pôde ver sequer a cor. Não podia ver nem sua mulher!
Neste dia Duduca não dormiu. Agradeceu por toda a noite a benção de estar vivo, e de não ter perdido sua mulher, a mesma que outrora traía sem piedade. Hoje, 18 dias após o acontecido, Duduca ainda contém o choro. Agradece a atenção e segue para casa.

14 junho 2007

Sexualidade no dia dos Namorados


Começa junho, se aproxima o dia dos namorados. O comércio se movimenta desde cedo. Roupas, doces e perfumaria com público certo: jovens casais. Atualmente, com produtos para confundir os sentidos: perfumes que lembram doces; cosméticos e roupas são comestíveis; comidas têm formatos ousados e brincam com a visão. O namoro de portão cada dia mais rápido é substituído pelos exercícios do amor. A cada ano que passa, as campanhas publicitárias apostam mais no apelo sexual no período do Dia dos Namorados, 12 de junho, véspera do dia de santo Antônio, o santo casamenteiro.
A estudante Kelly Trindade, 21 anos, afirma que a sexualidade deixou de ser um tabu com a facilidade de informação. Deste modo, o apelo sexual passou a fazer parte do cotidiano da população, permitindo que o comércio explorasse a libido das pessoas com maior ferocidade.
A comerciante que preferiu ser chamada de Camile, 18 anos, acha natural presentear o namorado com joguinhos amorosos, mesmo com apenas dois meses de namoro, mas se preocupa com as garotas de 12 ou 13 anos que estão começando a namorar: “essas meninas tão ficando ativas (sexualmente) rápido demais! Saem com pessoas bem mais velhas, daí muitas vezes acabam achando tudo normal, e abrem as pernas pra todo mundo!”.
Difícil situação. De um lado adolescentes conhecendo os conflitos amorosos pela primeira vez, expostos ao risco de se iniciarem sexualmente sem o devido preparo. De outro lado, jovens casais desfrutando de produtos ideais para compor o clima ideal da expressão maior do sentimento. Profissionais errantes estimulando a sexualidade verde dos novos amantes, ou crianças antecipadamente desenvolvidas,
pecando apenas por largarem um pouco mais cedo seus objetos lúdicos, em busca da experiência carnal?
Enquanto se propõe cozinhar biscoitos decorados, e elaborar cartões para revelar o sentimento pela pessoa amada em alguns países, no Brasil, empenha-se em amarrar o ser amado ou desejado pelas roupas, perfumes e produtos sensuais em uma noite romântica.
Não que seja errôneo. Seres humanos são acima de tudo seres vivos. E como seres vivos também têm além da razão, o instinto. Caso não o houvesse, não poderíamos procriar, não teríamos interesse em fazê-lo. O tabu ainda existe. As tradições cristãs, os costumes e o senso comum ainda julgam errônea a prática do sexo antes do casamento, e predominam nos diálogos e impressões a cerca dos fatos da população em geral. Ainda que cada vez mais a exploração deste tema garanta os altos índices de Ibope nas redes televisivas.
De qualquer modo é conveniente a preocupação. Embora haja a disciplina de educação sexual nas escolas, não há ainda controle e preparo psicológico para a nova fase. Ela diz que as sedutoras propagandas do Dia dos Namorados pecam não somente por cultuar a necessidade de estabelecer o contato sexual com o(a) parceiro(a), mas ainda a de gastar com algum objeto, onde acaba sendo depositado maior valor do que no sentimento em si.
Contudo, deve-se relevar a natureza atual das campanhas de dia dos namorados. O dia dos namorados no Brasil provém de estratégias de marketing. Duas são as hipóteses: teóricos dizem que surgiu da promoção pioneira da loja Clipper, realizada em São Paulo em 1948; ou a partir do publicitário João Doria,em 1950, com o slogan de apelo comercial que dizia "não é só com beijos que se prova o amor". A intenção de Dória era criar o equivalente brasileiro ao Valentine's Day - o Dia dos Namorados realizado nos Estados Unidos.

22 maio 2007

"Magali" x "Mary Love"

Penso que qualquer dia desses vou explodir. Não que eu esteja estressada; não que eu seja infeliz. Penso demais. Vivo muito a vida mental. Alimentada em excesso, qualquer dia ela vai fugir.

Como um galo falante, um alfinete e a vontade de ser menino da provável garotinha Lygia Bojunga, minha vida mental irá se debater nas paredes da minha derme, me reformando e deformando até se libertar. Um raio de luz imenso surgirá, como a luz produzida na mais profunda e obscura das fossas Marianas. Que ironia do nome, mas passemos adiante.

Já sinto os primeiros sintomas de meu destino. Esmalte, tinta, estilo...não sou eu, é ela! Inquieta, exibida, destrutiva. Cobiça e despreza simultaneamente minha vida. Não tem ideais mas é cheia de idéias, por isso fascina. Observo-a e participo fervorosamente de suas folias temendo o risco de um dia não voltar, feito pescador que segue a melodiosa Iara. Onde vou parar...?

Virtual(mente) transferida e substituída, chorarei covardemente minha explosão, que agora percebo ser na verdade uma implosão. Me debaterei como a tal faz impacientemente para tornar-se meu juízo. Quem ganhará no final? A “sensatez” ou a magia “Bud-loveana”? Não sei. Torço por um choque efetivo que funde nossas ausências e excessos, finalizando em um único ser: real; indivisível.

19 maio 2007

Uma poesia de Vinícius

Ausência (Vinícius de Morais)

Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar seus olhos que são doces...
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres exausto...
No entanto a tua presença é qualquer coisa, como a luz e a vida...
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto...
E em minha voz, a tua voz...
Não te quero ter, pois em meu ser tudo estaria terminado...
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados...
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada...
Que ficou em minha carne como uma nódoa do passado...
Eu deixarei...Tu irás e encostarás tua face em outra face...
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada...
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu...
porque eu fui o grande íntimo da noite...
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa...
Porque os meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
E eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos
Mas eu te possuirei mais que ninguém, porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas,
serão a tua voz presente, tua voz ausente, a tua voz serenizada.

08 maio 2007

Amor Enfermo


“Tanto sofre o ciumento que sente alegria quando morre antes do que o ser amado objeto do seu ciúme” (Ramón de Campoamor), não foi assim para João. Aconteceu em 2004. Joana (a chamaremos assim para manter o anonimato) acordou por volta das 5h30. Talvez rapidamente tenha preparado um café e engolido antes de sair. Todos os dias assim: de manhã se dobra para chegar a tempo de satisfazê-lo. É necessário. No fim da tarde logo se refaz para enfrentar o outro. As olheiras mal disfarçadas no pó evidenciam seu esforço em manter o vigor para o seguinte. Depois, volta ao amor maior. Quase 72 horas depois. Depende do dia, quando não fazia plantão com o quarto.

Jovem, corpo modelado, loira. Rosto castigado. O sono... De outro modo não o recuperaria. Não tem filhos. Arrisco a dizer: não tem tempo. Casada há dois meses. Tem boa moradia (ou pelo menos confortável para dois), no bairro Latino. Joana tem 23 anos. Classe média, formada em enfermagem. Não. Escrava da enfermagem. De manhã desdobra-se para resolver as mil pendências de um dos hospitais onde trabalha. Logo depois corria para o outro. E à noite ainda paga plantão em um particular para manter o padrão de vida que sempre teve. Padrão de vida, ora, até soa irônico. Joana não tem vida, literalmente.

João (também nome fictício) é seu marido. Ciumento, forte, sisudo, não gosta da independência da mulher: “resiste tempo demais sem mim!”. O homem gosta de um bom agrado, precisa de atenção, está desempregado. João matou Joana. Joana o matava; se ausentava sem compaixão.

Como disse, acordou por volta das 5h30. Ligou luzes, fez barulho, reclamou do sapato perdido. Saiu às pressas. Não disse bom dia, sequer deu aquele beijo. João acordou. Foi à cozinha: “pelo menos fez meu café” (ultimamente não tinha feito, ele teve que brigar – mais uma vez na semana). João e Joana nunca brigaram em seu namoro. Atrevo-me novamente: não deu tempo. Apenas alguns meses de namoro intenso e fogoso antes do casamento.

Tomou seu café da manhã e foi assistir televisão; João não trabalhava. Os amigos o consolavam: “gente boa, sua mulher, empenhada, trabalhadora, bonita... calma homem, calma”. Desligou a televisão. Náuseas.

Saiu. Foi resolver alguma coisa, suponho. Ao chegar, preparou rapidamente um almoço, mas não comeu. João está mal. Mil coisas passavam por sua cabeça. Ele não podia mais suportar. Complicada a situação de João. Jovem, mas desempregado, sustentado pela esposa, sofre de ciúme patológico. Pessoas com ciúme patológico geram dúvidas que podem se transformar em idéias supervalorizadas, ou francamente delirantes. Também realizam comumente visitas ou telefonam de surpresa em casa ou no trabalho para confirmar suspeitas. Os ciúmes de João talvez tivessem nomes masculinos, Walfredo Gurgel, Paulo Gurgel, Onofre Lopes, não justifica, seu ciúme era abstrato.

Então esperou: ficou lá, resmungando, talvez tenha bebido algo, enlouqueceu. Joana, linda, loira, cansada, chegou à noite em casa. Foi quando aconteceu. João e Joana discutiram. Muito. Fizeram sexo, talvez selvagem, pois João, a fera, calou a presa. Com um revólver trinta e oito João terminou aquela que poderia ter sido a história comum de um casal se ajustando para estruturar a base de uma futura família de três filhos.

João atirou na cabeça de sua esposa, que lá ficou, na cama, de bruços e nua. Muito sangue, porém não tanto espalhado, apenas decorando interessantemente o travesseiro e lençol da cama do casal. João ficou ao lado, morto, com bermuda, perna e braço meio caídos para o lado. Ela à direita, ele à esquerda. Talvez João o quisesse assim, se estivesse nu ficaria um tanto vulgar (mulheres são bonitas, suaves, poéticas, homens não). Talvez não tenha ocorrido assim, não há como saber. Nenhum vizinho se atreveu a comentar, não o conheciam tão bem. O amor enfermo saiu no Jornal de Hoje. Sem permissão. A população reclamou, mas foi só mais uma história.


Está foi mais uma das pequenas e cotidianas tragédias familiares eternizadas em uma das perturbadoras fotos de Herácles Dantas, fotógrafo de polícia, apaixonado por “presuntos” (como se atreve a tachá-los) e possuidor de um acervo inigualável de carnificina e compaixão, impiedade e justiças.

(mais uma produção desmedida para a faculdade, sem piedade ou cuidados...não é típico de mim)

04 abril 2007

CLEBER E O PÉ

Chega sempre próximo às 19h. Fala com todos que conhece, anda olhando pro chão. Não sei se pelo caráter mais sonhador, mas tenho notado que as mulheres olham mais para frente. Homens percebem melhor onde pisam. Cleber é pé no chão. Adora meninas que usam tênis. Sim, ele conhece mesmo onde pisa, e os pés que o rodeia. Gosta de pés, mas tem horror aos próprios. Não os conheço. São tímidos como os meus, vivem socados em tênis.

Seria Cleber podófilo? Sim, tenho quase certeza, e talvez por isso não goste de seus pés. Talvez por não gostar de seus pés seja podófilo. Sua namorada tem pés bonitos. No entanto, vez por outra pego Cleber perder sua paixão. Não sei o que lhe dá, ou o que lhe falta. Talvez ainda não tenha visto um pé bonito no dia, e frustrado, trava conversas sem pé nem cabeça. Calma Cleber, calma. O pé, este, você não pode perder.

Por falar em cabeça. Cleber também tem cabeça. E bem achada, sobre seu pescoço. Como seus pés, sempre firmes na terra. É sensato, inteligente, experiente. É um tanto calvo. O formato é redondo, o rosto, miúdo. Aparência inofensiva. Mas não me deixo enganar, não gosto de rasteiras, e seus pés, como disse, não os conheço.

Imagino como seria sua paixão se levada ao extremo (sim, certamente ele tem paixão por pés!). Acordaria cedo da manhã, tiraria as meias Armani, que teriam conservado seus pés na perfeita temperatura. Pisaria sobre pantufas de camurça e seguiria para sua cozinha, onde por ele esperaria a chaleira, que ferveria duas vezes água. Para o café de sempre, e para sua pequena banheira de hidromassagem para pés, logo abaixo da mesa. Depois sairia para trabalhar, usando seus preciosos e protetores Tênis Nike Air Max Tn 2007. O resto tampouco importaria. Oh sim, seus pés seriam bonitos (quem garante que não os são?).

No almoço, certamente comeria os pés da galinha. Não que sejam saborosos, mas são mais magrinhos que as coxas. Tomaria suco somente de frutas tiradas do pé. Pensaria e falaria a língua do pê, só pela possível alusão à sua paixão. Não faria jornalismo: ortopedia. Prescreveria suas receitas sempre pelo computador, pela garantia da serifa.

Deixando de lado este devaneio sem cabeça, mas recheado de pés, não creio que haja motivos para desconfiar dos pés de Cleber. Sei que nunca os vi, mas náuticos confiam no vento, e nunca o vê. Os pés de Cleber andam relaxados, pousam sobre o chão sem a menor preocupação, ou o peso da culpa. Tanto que parece que se passasse pelo corredor da fortuna, bailaria com a leveza e a elegância de um lorde. Sim, confio nos pés de Cleber. Não entendo porque ele os odeia. Talvez tenham uma rixa. Talvez os pés não confiem nele.

(é brincadeira viu Cleber? hehehehe...pois é...rasguei logo quem é meu perfil
podem até achar ruim, mas me diverti um bocado escrevendo sobre o que não sei)

12 março 2007

Internação provisória de adolescentes sobe 126,67% no RN

Pesquisa nacional aponta caminhos para tornar o sistema de garantia de direitos mais eficiente

O Levantamento Nacional do Atendimento Sócio-Educativo ao Adolescente em Conflito com a Lei, realizado em 2006, pela Secretaria Especial de Direitos Humanos (SEDH/PR), apresentou recentemente seus resultados, e os números preocupam. A quantidade de menores de 18 anos em privação de liberdade no Brasil, do ano de 1996 a 2006, aumentou de 4.245 para 15.426, representando um crescimento de 325%. Somente no NE, os 413 adolescentes em regime fechado, passaram a ser 2.089, representando um aumento de 506%. Paralelamente, notou-se que no País todo ainda há um déficit de 3.396 vagas. Os estados com maiores problemas são Pernambuco, Rio Grande do Sul e Minas Gerais.

Em 2006, o número total de internos no sistema sócio-educativo de meio fechado no Brasil é de 15.426 adolescentes, sendo a maioria (10.446) na internação, seguidos da internação provisória (3.746) e da semiliberdade (1.234). Observa-se um aumento expressivo na taxa de crescimento da lotação do meio fechado no país entre os anos de 2002-2006, correspondendo a 28% - muito embora 18 estados apresentaram uma média superior.

No tocante à internação provisória, o levantamento mostrou que na Região Nordeste, o número subiu de 574 adolescentes para 808 (um acréscimo de 40,77%), entre o ano de 2004 e 2006, perdendo somente para a Região Norte, que subiu 58,62% (de 174 jovens para 276). Somente no Rio Grande do Norte, a taxa de crescimento de adolescentes em internação provisória subiu de 15 para 34, representando um aumento de 126,67%. O estado apresentou ainda, um aumento de 240% na taxa de crescimento da população em internação no gênero masculino entre 2002 e 2006.

Apesar dos resultados negativos, regionalmente, o Nordeste ficou em último no ranking relativo da lotação e internação de adolescentes, enquanto o Sudeste lidera no ranking relativo e absoluto. A unidade federativa que relativamente mais aplica a internação é o Distrito Federal, seguida de Roraima. Do ponto de vista absoluto, o Estado de São Paulo lidera. No que diz respeito à participação de cada estado na lotação total do meio fechado, destaca no ponto de vista regional, o decréscimo da participação do Nordeste (de 21,29% para 18,25%).

O material analisado foi enviado pelos gestores estaduais e detalhava informações sobre: gênero; tipo de medida (internação, internação provisória e semiliberdade); capacidade, lotação e déficit; população cumprindo medidas em cadeias e presídios; e quadro de pessoal, separado em sócio-educadores, técnicos e administrativos. A perspectiva do estudo é mostrar a necessidade da Implementação de um programa de sensibilização e conscientização da comunidade e dos órgãos públicos sobre o papel dos Conselhos Tutelares na proteção integral da infância e da juventude. A realização de campanhas de informação e esclarecimento sobre adoção, voltadas especialmente para o incentivo das adoções de crianças maiores de 2 (dois) anos, pertencentes a grupo de irmãos, portadoras de necessidades especiais ou com problemas graves de saúde.

Segundo José Carlos, ex-diretor do Centro Educacional de Pitimbu (Ceduc), e assessor de planejamento da Fundação Estadual da Criança e do Adolescente (Fundac), essa reincidência se dá devido à falta de políticas públicas voltadas à infância e à juventude. Ele critica as medidas assistencialistas, como bolsas-família, afirmando não serem suficientes para suprir as necessidades sociais do adolescente que vive em bairros pobres. No que diz respeito à redução da maioridade penal, José Carlos afirma que é contra a medida, e ressalta a importância das ações preventivas, disponibilizando às crianças e adolescentes educação; o acesso a esporte e lazer, e o acompanhamento adequado aos jovens que saem dos Ceducs, e oportunidades de emprego para o adolescente, a fim de garantir a ressocialização do adolescente, e condições, nas áreas de saúde, educação, trabalho, assistência social e habitação,

A Secretaria Especial de Direitos Humanos propõe em sua análise, possibilitar que todos os adolescentes apreendidos em flagrante e encaminhados para o Ministério Público sejam atendidos pelo Defensor de plantão, na Promotoria, antes de ser entrevistado pelo Promotor de Justiça. Esta medida é muito importante para esclarecer o jovem do procedimento e dos direitos que lhe assistem, inclusive o de silenciar perante o Promotor.

No que diz respeito às medidas locais. O diagnóstico do Levantamento Nacional do Atendimento Sócio-educativo ao Adolescente em Conflito com a Lei propõe um investimento orçamentário e financeiro do Estado, visando o fortalecimento e reaparelhamento das Secretarias de Estado, responsáveis pela implementação das políticas públicas voltadas ao atendimento das necessidades das crianças em situação de risco e dos jovens em conflito com a lei e de suas famílias. O estudo mostra ainda a necessidade do aumento do número de conselhos tutelares, observando-se a resolução do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), que recomenda a proporção de um Conselho Tutelar para cada 200.000 habitantes. O Rio Grande do Norte tem 167 municípios e dispõe apenas de 112 conselhos tutelares cadastrados até julho de 2006.

Maiores informações:
José Carlos – Assessoria da FundacFone: 84 3232-5085 / 8805-5750

(pauta que fiz para esta semana na TerrAmar...gsotei do tema e resolvi postar...
ah! o texto foi revisado por Ana Emília...hehehhe...o que seria de mim sem ela ^^)

06 março 2007

.:Conflito Interno:.

Só queria não ter nascido.
Queria não ser alguém.
Queria não precisar de nada disso.
Mas sei que isso me convém.

Queria saber ser um alguém.
Queria ter meu desejo contido.
Queria querer ir mais além.
Queria querer virar o disco.

Nada na vida me interessa.
Não há futuro, presente ou passado
Vim aqui à esmo, às pressas.

Nem este soneto, com gosto faço!
Escrevo rápido, com idéia lenta.
Sucumbo sem alma, em corpo farto.

01 março 2007

Ergiebigkeit

Chora brando, envergonhada
Com a mancha escondida que espalhava.
Foge dos risos histéricos, da dor desesperada.
Da nova fase, agora revelada.

Pungindo-lhe a dor:
Recorre ao pai que logo notou.
Mas com riso calmo e breve, brincou:
"O que é isso? se machucou?"

Ora mais, quem diria
Ninguém entende sua agonia?
Acham graça, esperneiam:
"Agora sim, lhe nascem os seios!"

A menina, mulher amanhecia.
Amanhã, bom vinho ela seria.

Poesia do mal amado

Trouxe-lhe febre e calafrios
Deixou-lhe lembranças...
e espaços vazios.

13 fevereiro 2007

De cima do muro


De vez em quando tenho essa necessidade de subir num muro e ficar observando...
ver as coisas fluirem sem minha participação, crítica ou consentimento...
de longe, bem longe, com colete, para amenizar o risco de bala perdida...
olhar, só olhar...sem pensar, focar, analisar, indignar, rir... chorar...
só olhar...
nem tudo na vida vale a pena se passar, ou compartilhar, ou lutar, nem determinar...
relaxar de vez em quando não é ser passivo... relaxar é apenas relaxar

23 janeiro 2007

Soneto para Junqueira

Em março de 2004, manifestei um infindo deslumbramento sobre um poema de Junqueira Freire, e sentindo com ardor os sentimentos no referido texto presentes, atrevi-me a relatar em um poema chulo, plagiador e feminista. Talvez por mera vaidade acabei me afeiçoando a este... julguem vocês mesmos...)


Tome-se contra mim a malícia,
Sufoque-se em agonia a inveja detestável,
Exale-se o odor da calúnia detestável,
Mas mantenho firme a minha mordomia.

Juntem-se todas: cada degradada fuinha.
Contra minha persona, o todo petrificado.
Incha-se ao máximo um ódio indignado;
A base sentimental que me dá vida.

Como Junqueira, sei rir-me da humanidade,
desprezo sua vaidade e nomes imprecisos.
Menosprezo a meticulosidade.

Descanço alegre sobre corpo belo e rijo,
Em lábios de homem, ufanos, tal qual deidade
E o mais que este e outros são, piso!


Não sou a favor de comparações...muito audaz querer ser comparada com Junqueira... mas posto também o tal poema sedutor, para que também possam se apaixonar.



Arda de raiva contra mim a intriga,
Morra de dor a inveja insaciável;
Destile seu veneno detestável
A vil calúnia, pérfida inimiga.

Una-se todo, em traiçoeira liga,
Contra mim só, o mundo miserável.
Alimente por mim ódio entranhável
O coração da terra que me abriga.

Sei rir-me da vaidade dos humanos;
Sei desprezar um nome não preciso;
Sei insultar uns cálculos insanos.

Durmo feliz sobre o suave riso
De uns lábios de mulher gentis, ufanos;
E o mais que os homens são, desprezo e piso.
(Junqueira Freire)

12 janeiro 2007

Versos no ar


Vamos viver a fantasia,
que o real não quer pronunciar.
Vamos viver a fantasia,
que a dor cansou de latejar.
Vamos viver a fantasia,
porque o sertão um dia vira mar.
Vamos viver a fantasia,
que essa porra uum dia vai acabar.

VAMOS VIVER A FANTASIA!
QUE NO REAL ELA VAI SE TRANSFORMAR!

(rima pobre....mas minha... é foda ler todos os jornais todos os dias
dá uma canseira ler tanta desgraça...daí tirei esses versinhos bobos.
mas tipo...eu acredito...ler jornal vai ser legal um dia)

Coleção Pingos de Quê - by Magaliana