27 setembro 2007

IARA SUBURBANA

Agita a mecha loira que faz o olho coçar. Abaixa a cabeça enquanto ri para não mostrar muito. Brinca sem medo e sem malícia. Põe a mão na cintura. É expressiva.
Dá sinais,mas não porque quer, pelo contrário! Não quer aparecer, sequer pertence a aqui! Mas a genética não lhe permite parar. Em cada gesto, por mais encabulado e comedido que seja ela passa sinais, ela seduz.
Não é bonita ou formosa o suficiente para tanto: são seus atos. Conseqüências da combinação perfeita da genética de uma mulher alfa com a de um galante boêmio, desenvolvidos ao longo de abusados e sofridos anos de sua (d)existência(?). Resultou na fórmula perfeita da sedução gratuita. Uma máscara indestrutível em defesa da desestrutura do seu ser. Agora causa suas conseqüências.
Já não se permite encabular; não se permite ignorar. Seu comportamento inquieto confunde deixando passar por cínica aquela atitude que seria tímida. Não dá tempo de perceber, seu rosto logo muda. Sua boca retruca com prontidão o “atentado ao rubor” de outrem.
Mas a desmedida ama. E o faz com toda intensidade e lealdade que se pode imaginar, o que não muda os fatos. Aquele que a acompanha, ou igualmente confunde, ou beira à loucura (não que a primeira opção seja muito saudável). “O que ela pensa?”; “O que está fazendo?”; “Por que está fazendo?”; “Será que...?”; “Ei! Para!”; “Você! Sai!”... enquanto a infame pensa na cena daquele filme que há muito não vê.
O que se pode fazer? Ela tem consciência! Pode até ensaiar um progresso, mas não adianta. Sua angústia consumida em segredo por pouco não revela a insatisfação de se perceber. Então aguarda. Torce pela paciência de um dia fazer sua sina acabar, ou pelo menos, ter alguém com quem estar... Estável.

Coleção Pingos de Quê - by Magaliana