04 abril 2007

CLEBER E O PÉ

Chega sempre próximo às 19h. Fala com todos que conhece, anda olhando pro chão. Não sei se pelo caráter mais sonhador, mas tenho notado que as mulheres olham mais para frente. Homens percebem melhor onde pisam. Cleber é pé no chão. Adora meninas que usam tênis. Sim, ele conhece mesmo onde pisa, e os pés que o rodeia. Gosta de pés, mas tem horror aos próprios. Não os conheço. São tímidos como os meus, vivem socados em tênis.

Seria Cleber podófilo? Sim, tenho quase certeza, e talvez por isso não goste de seus pés. Talvez por não gostar de seus pés seja podófilo. Sua namorada tem pés bonitos. No entanto, vez por outra pego Cleber perder sua paixão. Não sei o que lhe dá, ou o que lhe falta. Talvez ainda não tenha visto um pé bonito no dia, e frustrado, trava conversas sem pé nem cabeça. Calma Cleber, calma. O pé, este, você não pode perder.

Por falar em cabeça. Cleber também tem cabeça. E bem achada, sobre seu pescoço. Como seus pés, sempre firmes na terra. É sensato, inteligente, experiente. É um tanto calvo. O formato é redondo, o rosto, miúdo. Aparência inofensiva. Mas não me deixo enganar, não gosto de rasteiras, e seus pés, como disse, não os conheço.

Imagino como seria sua paixão se levada ao extremo (sim, certamente ele tem paixão por pés!). Acordaria cedo da manhã, tiraria as meias Armani, que teriam conservado seus pés na perfeita temperatura. Pisaria sobre pantufas de camurça e seguiria para sua cozinha, onde por ele esperaria a chaleira, que ferveria duas vezes água. Para o café de sempre, e para sua pequena banheira de hidromassagem para pés, logo abaixo da mesa. Depois sairia para trabalhar, usando seus preciosos e protetores Tênis Nike Air Max Tn 2007. O resto tampouco importaria. Oh sim, seus pés seriam bonitos (quem garante que não os são?).

No almoço, certamente comeria os pés da galinha. Não que sejam saborosos, mas são mais magrinhos que as coxas. Tomaria suco somente de frutas tiradas do pé. Pensaria e falaria a língua do pê, só pela possível alusão à sua paixão. Não faria jornalismo: ortopedia. Prescreveria suas receitas sempre pelo computador, pela garantia da serifa.

Deixando de lado este devaneio sem cabeça, mas recheado de pés, não creio que haja motivos para desconfiar dos pés de Cleber. Sei que nunca os vi, mas náuticos confiam no vento, e nunca o vê. Os pés de Cleber andam relaxados, pousam sobre o chão sem a menor preocupação, ou o peso da culpa. Tanto que parece que se passasse pelo corredor da fortuna, bailaria com a leveza e a elegância de um lorde. Sim, confio nos pés de Cleber. Não entendo porque ele os odeia. Talvez tenham uma rixa. Talvez os pés não confiem nele.

(é brincadeira viu Cleber? hehehehe...pois é...rasguei logo quem é meu perfil
podem até achar ruim, mas me diverti um bocado escrevendo sobre o que não sei)

Coleção Pingos de Quê - by Magaliana