30 março 2008

Para fechar o mês

Ok, só para encerrar o mês com um post a mais...vai mais uma crônica da série

A VIDA COMO NÃO DEVIA SER

Sempre assim: faz pouco caso, gaba-se, posa de moderno. Tudo mentira. Carlos sempre fora um homem romântico, ingênuo e inseguro. Nunca teve traumas que o transformassem no que é agora, apenas experimentou uma máscara e gostou.

À noite as conseqüências o corroíam. Nunca teria alguém de verdade, nunca o seria para alguém. Sua insegurança travestida de arrogância e libido repelia toda e qualquer tentativa de relacionamento. As meninas (preferia as bem jovens) por mais modernas que fossem não o acompanhavam. Dormiria só de novo.

Rosto jovial apesar da idade um tanto avançada, era bonito, inteligente e provido daquela que seria a mais afiada lábia da cidade. Tinha todas as mulheres que queria, apaixonava até quem não queria, mas nunca mantinha ninguém.

Sexo, carinho, papo, companhia. Não importava o que a garota buscava, o teria no ato. O problema nisso? Todas também o teriam e ele não escondia a ninguém. O problema de Carlos era um só: nasceu na época errada. Facilmente levaria sua vida em outrora, mais especificamente no século XIX. Desfrutaria da mesma agonia da insegurança que Junqueira Freire e da boemia típica da época. Teria todas e uma: as mulheres ainda não tinham vez. Mas nasceu hoje, aqui.

Há poucos dias Carlos se cansou da máscara. Este objeto nocivo já lhe tirava a razão e o sono com o calor sufocante que produzia em sua face. Não tardou e conheceu Virgínia. Doce, leve e divertida, o apaixonou. Pediu-a em casamento.

Naquela manhã Virgínia teria encontrado uma máscara. Gostou.

25 março 2008

O encontro

Foi a primeira vez desde a tragédia. Tragédia em que não se encontraram efetivamente, mas lançaram seu veneno, com efeito. O primeiro par encharcou de imediato, o outro esbugalhou. Diziam tanto e ao mesmo tempo nada. Não sabiam o que queriam ao certo.

Um passou a brilhar. Era ele, aquele sinal de novo. Aquele tão cobiçado que nunca mais o outro par havia percebido. Como era prazeroso e doloroso vê-lo. Novamente veio tarde demais. Franziu.

Pouco importa o que as bocas diziam. O cérebro não as conduzia, apenas os olhos. O corpo de um ainda manteve certa atenção, o suficiente para estender o braço. As terminações nervosas responderam ao ato desinteressadas. Nada passava pela mente do segundo par de olhos. Ele apenas constatava: o tal olhar estava lá. Brigou tanto por ele. Chegou tarde, novamente tarde. Não importava mais.

O outro par pensava constantemente. Tremia vermelho de tanto pensar, dizer. Mas se continha a muito custo. Sabia que de nada adiantaria. Alegrou-se por não estar vendo o tal olhar. Não o olhar que ele fazia, o outro. O maldito frio e confinador olhar raivoso típico do outro par naquela situação. Não, era um olhar assustado, sorridente e confuso. Mais leve.

As bocas cansaram, o corpo também. Fim de diálogo. Novamente mãos estendidas. Um par vai embora. Outro fica. Volta ao que estava fazendo. Tão cedo não vão se encontrar.

24 março 2008

Faces do Brasil #1

É tanta porcaria chata pra estudar que o blog véi é o primeiro a sentir o impacto, mas de qqr modo, tou produzindo viu, gente?
hoje vou de desenho, pra mudar um pouquim essa bagaça...

tem mais vindo por aí, mas vamos de pouco que num tá dando pra produzir
rsrsrsrs
xeru!

17 março 2008

Rapidinha

Ninguém é tão perfeito
que jamais possa ser visto como suspeito.
Não existem tantos defeitos,
que impeçam o substantivo de ser sujeito.
Nem predicado, com efeito.

"Eu-quero-você".

05 março 2008

Sonho meu

Eu era meiga e prendada. Era também casada e tinha um lindo casal de filhos, gêmeos! Também simpatizava com aquela linda casa campestre em plena capital, e sempre recebia o afago do fiel e bondoso cão Amarelo. Ah, como era lindo aquele imenso jardim florido com algumas fruteiras. Acordei.

Mais um pesadelo, saco. Por sorte me antecipei desta vez. Na verdade, por sorte meu gato antecipou. Ele detesta me ver assim. Deitou-se sobre minha cabeça. Fofo.

Qual o problema em sonhar com coisas tão bonitas? Tudo!

Logo estaria a casa novamente empestada de algum inseto asqueroso ou sendo assaltada, por seu caráter antiquado para o perigo da capital. o cachorro imprestável nada faria a respeito, ocupado destroçando meu bicho de pelúcia favorito com aquelas patas imundas sobre minha cama. Meus lindos filhos? Berrariam como sempre e me estressariam mais ainda, não ajudando em nada, enquanto o infeliz do marido estaria a um quarteirão dali, torrando a droga do dinheiro do pão com a maldita cachaça.

Como se não bastasse, eu estaria tendo uma senhora crise alérgica por causa daquela "floresta amazônica" que custou uma nota para o paisagista e só serve de abrigo para cobras e escorpiões.

Meu nome é Mariana, 22 anos . Sou pisciana. E definitivamente, não sou romântica.

Mas há quem diga que não nasci assim.

02 março 2008

Rosana vai à Praia

Pela primeira vez na praia da capital, Rosana, cinco anos, analisava cuidadosamente tudo aquilo que a rodeava. A experiência não foi das melhores. Seres ditos humanos de pele alvo-avermelhada com roupas expressivamente coloridas e desajeitadas nas lojas falando algum dialeto extra-sideral; homens oferecendo gosmas cruas e frias (diziam ser bichos) em isopores a um custo altíssimo para o povo comer; tatuagens feitas com um piche derretido (ele achava), soro fisiológico sendo vendido num copinho como água de côco, côco verde recém tirado do coqueiro da praia sendo vendido a dois reais. Era uma algazarra indecifrável.

Achava tudo estranho e definitivamente amedrontador. E isso muito antes de se deparar com umas mulheres meio barbadas e voz masculina com um corpo quase igual à Barbie Summer que ela carregava na mão. Seus pais pareciam não ligar mesmo para o fato. Também havia um garoto bem novo beijando (eca!) uma dona com seus quarenta anos (eca de novo!).

Mais a frente, viu um grupo de pessoas saltar do ônibus como um verdadeiro furacão. Às pressas se instalaram debaixo de um coqueiro ao lado do início das barraquinhas com um mega isopor cheio de bebidas e umas sete tuperwares com comida de panela. Até simpatizou com essa turma que não ligava para a areia caída no galeto, nem para a mistureba do caldo de mocotó com panelada. Mas ao chegar perto, a mãe deu um puchavante que quase descolou a clavícula da menina. "Não chega perto, não! É perigoso!", garantiu a mãe.

Então seguiram em frente por todo o mundarel de gente completamente louca, se banhando na mesma água que o cachorro pelancudo daquele senhor barbudo tascou coco, onde restos da farofada da família simpática boiavam e onde o “sargaço”, ou algas marinhas como acabara de ensinar a mãe, “amarravam” as garotas mais frescas da praia. Assustava-se sempre com os previsíveis gritos dos ambulantes vendendo até mesmo tesourinha e alicate de unha, ou pantufas em plena areia de praia, sabe lá deus a quem (talvez aos mesmos turistas que insistiram em ir com bermudão florido, chapelão com a bandeira do Brasil estampada e sandálias com meias).

Quando finalmente pararam em uma barraca, veio o maior impacto: Rosana sentiu-se parte do meio. A mãe, impiedosa, lascou uma argamassa rosa no rosto da menina com cheiro parecido com vick vaporub, e como se não bastasse mais meio quilo de uma pomada branca e fedida, deixando a menina na pior das aparências alienígenas do local.

Foi ainda encorajada a entrar naquela água de cor suspeita e tantos elementos desencorajadores vistos há pouco. De cara, a menina sofreu um caldo, um empurrão de um adolescente obeso e um ferimento de uma tábua de passar que um alienígena como ela (com aquela mesma mancha rosa tingida na cara) usava para andar por cima da água.

Ficou em coma por três meses devido ao traumatismo craniano e nunca aprendeu a nadar. Mas Rosana não lembra mais daquele dia. Hoje, pela primeira vez vai levar sua filhinha àquela praia. Já reservou na bolsa o ultra mega Max bloqueador solar ultimation que não sai na água nem com detergente, e a boa e velha Minâncora.

Coleção Pingos de Quê - by Magaliana