31 janeiro 2008

Suprema beleza

César era publicitário. Boa pinta, arrumado e estupidamente devasso. Seu castigo não tardou. Passeava pela praia de Búzius quando a avistou. Seduzido, seguiu compulsivamente aquela forma inigualável da pura beleza brasileira. Chegou até ela:

-Desculpe-me, mas não pude conter tal impulso, como se chama?

Ela não respondeu.

-Não queria incomodar, mas não dá. Não saio daqui enquanto não souber pelo menos seu nome.

Nada.

-Por favor, sei que meu comportamento está deveras um tanto estranho - não para ela, todos pareciam ter assumido mesmo aspecto "tex averyano" com olhos esbugalhados, queixos caídos e língua desenrolada feito tapete pelas areias sujas do local- mas por favor, ao menos respire alto para que possa ouvir sua doce voz.

A inquietante mantinha o silêncio. Neste exato momento, o homem olhou ao redor e quase enfartou ao perceber que todos da praia estavam em pé diante da bela imagem, em transe, parados, balbuciando uma ou outra coisa em língua incompreensível para mentes sãs.

Meninos, meninas, mulheres, velhotes desgrenhados. Todos ali, torcendo pelo sucesso do rapaz, ou para que este saísse do meio daquela vista espetacular. Ele torcia pela primeira hipótese. Ela deu meia volta e foi. A multidão atrás.

O homem perdeu a paciência, saltou na frente dela e a segurou:

- Não pode fazer isso! Olhe ao redor! Todos sofrem! Uma palavra! Um suspiro! Qualquer coisa!

- De onde você veio? Por que está aqui? Por que faz isso?

Ela se soltou. Andava mais rápido. Rosto atônito. Todos acompanhavam o homem, rápidos, raivosos. Gritavam e exigiam explicação para aquilo. o homem a atacou. Em poucos segundos, toda a multidão acordava extremamente ressacada e suja de sangue. Lá longe, a moça saía sorrindo com algo que parecia ser um frasco de perfume vazio. As roupas do publicitário serviram bem no mendigo.

25 janeiro 2008

Não tem jeito

Chicão - Aê, Martinha! Tó pra tu um bichinho pra tu ficar peixe!

Martinha - O.o ...


23 janeiro 2008

Versos (só pra matar a saudade)

Nada mais incômodo na vida:
Do que saco em pneu na estrada,
Pedinte que aborda de surpresa numa esquina,
e Chicletes "frescos" no chão da parada.


Não existe coisa pior:
Do que ferida infectada grudada no tecido,
Filho mais novo passando por algum perigo,
Ouvir a mãe fazendo sacanagem com o marido.


Impossível algo mais triste,
do que gravar "hit do verão",
Ver Ronaldinho ser babado pelo Galvão,
Ou falar com alguém com um bafo do cão.


Mas não há situação mais terrível
do que namorado muito ciumento

e um diabo de um chiuaua arisco.

21 janeiro 2008

Martinha

Depois de muito levar chumbo grosso do povo que acha mesmo que posso produzir alguma coisa. Resolvi apanhar verdadeiramente dos lápis, papéis e principalmente, corel draw, afim de produzir uma personagem, altamente simples, mas que já me permitisse dizer pra mim: "sim, eu posso!"
Pois bem, nasceu Martinha, uma garotinha de sete anos, meiga e delicada, cuja mãe namora um garoto vinte anos mais novo (ela não gosta muito dessa idéia).
Martinha está de férias, em seu "apertamento". Todos seus amiguinhos viajaram. Os adultos nunca mostram o rosto.
Martinha adora animais. Seu refúgio para uma situação tão hostil, são seus infinitos animais de estimação e sua eterna dedicação em acabar o namoro da mamãe.

Espero que gostem...




14 janeiro 2008

Os efeitos das toalhinhas

As mulheres sempre levam toalhinhas para academia. Normal, você vai se exercitar, vai suar, é importante uma toalhinha para tirar a umidade das mãos quando manusear instrumentos de superfície lisa, não é mesmo?

Errado. As toalhinhas, segundo o manual da sobrevivência feminina é escudo de mega importância contra o bombardeio de olhares curiosos, debochados ou famintos dos bichos-homem. A toalhinha em hipótese alguma pode sair da região glútea ou virilha, dependendo da máquina em se encontra a vítima.

Pois bem, retornei à academia semana passada. Depois de longos 14 meses sem exercícios físicos regulares, ponderei e achei conveniente voltar à musculação. Ao comunicar para um amigo então, ele perguntou:

- Está levando a toalhinha?

- Claro que sim! O que é de um mochileiro intergaláctico sem sua toalha e pacote de amendoim? O que é de uma mulher sem uma toalhinha no bumbum em uma academia?!

- Sinceramente não sei por que vocês usam a toalhinha.

- ?

- Quando a garota vai sem a toalhinha (qual é cara! Só vão sem toalhinha as titias capengas, sedentas por uma secada, voltando...), o homem olha, confere e vai em frente. Quando a mulher vai com a toalhinha, fica aquela reca de marmanjo só esperando a toalhinha cair, no "horário de descanso". É muito pior.

Meu caro, o homem jamais vai deixar de olhar só porque conferiu na entrada! Homem olha e quanto melhor achar mais vai olhar, e, já sabe o que acontece, né? Assobios, batucadas e o pior hit do verão para nos incomodar.

Todas nós sabemos que a toalhinha mesmo assim, não protege. Mas se comprimido de farinha cura dor de cabeça, uma toalhinha contra a timidez é bastante providencial.

(Obs.: Eu uso tiro a toalhinha para tirar a umidade, antes de ir às máquinas)

10 janeiro 2008

Falando em pássaros

Homens são como passarinhos.
Sério, homens são exatamente como passarinhos. Mesmo quando são magricelos, depenados e sem cor, não podem ver uma fêmea que também pode ser magricela, depenada e sem graça que cantarola. É instintivo. Ele quer chamar atenção. Então assovia, cantarola, solfeja, batuca.
Foi o que constatou Manelzinho, treze anos, sexualidade à flor da pele. Seu tio acabara de iniciá-lo. Não tinha pai. Passava pela rua quando surgiu a jovem. Com ela veio junto uma onda de calor e um perfume inebriante. Não tardou e lá estava: "Em qualquer estação só vou gritar, amor, amor, amor".
As referências não podiam ser piores. A moça virou-se para trás com tom de deboche: "Vê se aprende o que é música, moleque!", e rebolou ainda mais agora que notara os efeitos que provocou no "projeto de gente".
O menino não entendeu de imediato. Como assim? música? Não, ele não percebeu que estava cantando. Inquieto e envergonhado, parou no banco da praça.
Pensou por tempos o que danado tinha sido aquilo. Aprendera neste momento mais uma das habilidades de seu pequeno "júnior". Sim, ele ativa funções do corpo tão bem quanto o cérebro. Consegue por instantes o controle sobre as mãos, pernas, olhos, glândulas sudoríparas e agora, boca e cordas vocais. Impressionante!
Levantou e caminhou pelas redondezas. Passou exatas quatro horas observando cada homem que passava por perto de alguma mulher. Novas, ruivas, gordas, estranhas. A reação era sempre a mesma. Por um segundo ou minutos, dependendo da carga visual que recebia, e também variava o tema musical conforme a qualidade visual.
Perguntou a um e outro se eles percebiam o que estavam fazendo. Todos riram. Seja por testemunhar a grande descoberta inútil do garoto, seja por perceber que de novo se deixou levar pelo íntimo "amigo".
Voltou para casa maravilhado com a capacidade do seu "parceiro" e vangloriava-se por nascer homem. Ao chegar, lá estava a namorada gostosa do tio, a mesma que o iniciara sexualmente. Cantarolou, agora sem surpresas e com muito orgulho, ainda que não tivesse melhorado o repertório. A mulher balançou a cabeça rindo:
— Ok, garoto, é o seguinte: essa é a função mais estúpida do seu passarinho. Assim ele repele a "aranha".

Coleção Pingos de Quê - by Magaliana