23 julho 2010

GhostBuster Magali LTDA.

Olhei fixamente pros sacos voando na area, doida pra achar algum parecido com uma pessoa. Mas não era um saco, era uma pessoa. O vulto era uma pessoa, uma pessoa do sexo masculino que não consegui identificar. Aquele momento destruira meu bom senso e capacidade cognitiva. Ele me chamava de volta para o quarto, dizia que estava tudo bem e massageava meu ombro tentando me tranquilizar, mas eu sabia que não estava tudo ok.

Inquieta, voltei para o quarto, nos deitamos para assistir mais um desenho animado. Adormeci. Essa definitivamente não é uma coisa inteligente de se fazer quando se está em estado de choque. Era claro que a visão voltaria, agora pior, em forma de sonho, podendo aparecer um rosto, um gesto ou qualquer outra coisa que me deixasse ainda mais perturbada. Sempre tive sonhos muito reais, palpáveis, verossímeis. Um horror!

Certa vez adoeci simplesmente porque assisti Sexta-feira 13 e dormi logo em seguida. O resultado desse atrevimento foi eu sonhando com meu estômago dilacerado vagarosamente. Acordei vomitando tudo o que não tinha comido! Mas voltemos ao fato...

Tasquei grito de todo tamanho enquanto arranhava o coitado do namorado, deitado ao meu lado. O inocente não sabia o que fazia: se saia correndo do quarto ou se tentava me acordar daquela confusão. Acabou ficando.

O amor nem sempre é tão lindo assim. Foi nó cego convencer as pessoas de que aquele murro no olho esquerdo foi um acidente, e as unhadas nos braços foram na verdade algumas coisas que cairam por cima dele enquanto ele arrumava a despensa. Vi um um dia desses um cartão de visitas de um advogado com especialidade em violência doméstica no bolso da calça dele. Na certa foi a fulaninha que arrasta as asas para cima dele que entregou. Pobre de mim, eu nem sabia o que estava fazendo...

Bom, acordei. Levei uns cinco minutos para acordar de verdade, daí vocês imaginam o tamanho da briga. Voltando a mim, me deparo com aquela criaturinha de quase dois metros de altura, porte atlético, todo acuado, recolhendo um bocado de fio de cabelo na cama (talvez na tentativa vã de colocar de volta, ou para apagar as evidências mesmo) no outro lado da cama, perguntando com voz trêmula se eu estava bem. Fiquei com uma dó tão grande que só de lembrar dá vontade de chorar de novo. Tadinho do meu namorado. Acho que ele nunca apanhou assim na vida. E olhe que ele nem é pacato assim!

Depois de explicada a situação, fui cuidar do miserável espancado e ligeiramente careca em uma parte da cabeça (ainda bem que ele num conseguia ver, penteei o cabelo de um jeito que ele não notasse, pelo menos até que alguém do trabalho comentasse). O vidrinho de Merthiolate quase não dá para tanto arranhão, acho que seria mais simples dá logo um banho de óleo de cozinha de girassol, pra cicatrizar tudo, mas ia ser um desespero aguentar a catinga! Ué, está fazendo essa cara por quê?! Não sabia que nos grandes hospitais as pessoas usam esse óleo como cicatrizante, não? Pois saiba que funciona, e é obviamente muito mais barato do que comprar o remédio com a mesma funcionalidade (eu sei, também fiquei aborrecida quando soube, eles não diminuem nem um centavo da nossa conta por causa disso).

Passada a preocupação com o namorado voluntariamente espancado a nóia voltou. Quem diabo era aquele homem que estava lá fora? Voltei a revirar a casa atrás do destruidor de lares, arrastando o namorado junto, claro, e a cadela, que descobri ser o bicho mais inútil da face da Terra, pois não cheirou nada, nem latiu pra direção do infeliz quando ele apareceu... Cadê o sexto sentido que tanto falam que vem junto dos cachorros? Acho que o dela está fora do prazo de garantia. Enfim, não achamos nada. Mas ele estava lá! Eu vi! Ele estava olhando para a gente e se ele voltar, que se ligue! Porque meu aspirador de pó de mão foi adaptado que nem os dos GhostBusters! E pelos danos até hoje visíveis no meu namorado, eu TAMBÉM SEI LUTAR!

01 julho 2010

Minha carta aos Pais

“'Pais e filhos não foram feitos para serem amigos. Foram feitos para serem pais e filhos.' Millor Fernandes que me desculpe mas sou obrigada a discordar. Somente verdadeiros amigos brigariam, implicariam e reclamariam tanto em busca do nosso bem.

Um pai que apenas é um pai certamente tem uma forte influência sobre o produto final: filho. Mas somente um pai ou mãe amigo é responsável, testemunha e cúmplice da realização pessoal e social de um filho, vivendo desventuras e alegrias tais quais a que nós vivenciamos aqui, hoje.

Se há muitos conflitos e se em vários momentos injustamente suspiramos um 'não enche', nada mais natural entre pessoas que realmente se conhecem, e que, sem sombra de dúvida se amam. Pessoas que não se amam não se importam, não se incomodam, nem aborrecem ninguém.

É muito fácil perceber as brigas cotidianas, mas como é difícil falar da fé daquele abraço apertado, do cuidado no olhar preocupado de quem sabe ver algo escondido no nosso semblante, e ainda, o detalhe daquela comida tão bem temperada, feita pensando na gente.

Tenho certeza que posso talar por todos aqui ao dizer que nós notamos, assimilamos e agradecemos todas essas mensagens afetuosas passadas timidamente por vocês, pais, que temem dar bandeira para assim não perder a autoridade de pai, e de mãe.

Então nós fingimos. Fingimos a rebeldia própria dos novos adultos, tão certos de que sabem bem o que querem. E vocês? Vocês fingem nos criar para o mundo, deixando, claro, os braços abertos para acolher suas crias ao menor sinal de perigo.

Não importa o quanto aparentemos próximos ou distantes, presentes ou ausentes, suas feições, manias e atitutes estão impressas em nós, determinando assim, seus lugares em nossos corações, bem como ao nosso lado, fisica ou espiritualmente, no destino para o qual vocês nos levam: o topo.


Esse foi o texto que eu fiz e de forma trêmula recitei durante a minha formatura, evitando os olhares dos meus pais, claro, para não chorar logo. Hoje, eles não estão ausentes, não estão brigados, eles não completam aniversário. Não fazem bodas de coisa alguma, nem é dia dos pais ou das mães. Mas eu quero, hoje, lembrá-los deste momento. Porque hoje eu me vi adulta, planejando meu futuro, trabalhando e sendo reconhecida de uma forma ou de outra pelos meus feitos, e eu devo tudo isso a eles. Eu quero hoje reafirmar estas palavras que não foram escolhidas apenas para que as pessoas aplaudissem a capacidade oratória (que não existiu mesmo, no momento), mas justamente falar para eles, diante de todos, o quanto os adoro. Vocês sempre foram, e sempre serão minha referência, se não para tudo, mas para a maioria da minha vida. Vocês estão me levando a este caminho do qual tenho certeza que é grandioso. Mainha, eu te amo. Painho, eu te amo.

Fica em seguida um link super bacana do blog Histórias de vida do RN, que tem ótimos documentários, mas este, em especial, tocou mais, pois fala justamente sobre isso: nossos pais.

Coleção Pingos de Quê - by Magaliana