27 agosto 2009

Baboseira

Nada de útil para postar (como se houvesse alguma utilidade para os micropoemas, desenhos ou textos descabidos). Apenas quis constar: eu não esotu bem. Sério, devo estar passando do meu limite de estresse.

Eis que hoje resolvo abrir meu e-mail e um distinto amigo me envia uma piada. Creio que a pior manifestação de solidão atual é receber, ler e rir copiosamente de uma piada digitada em uma fonte sem graça sobre uma tela branca (ok, um tipo bem maluco cheio de curvas e paetês e um fundo brilhoso cheio de movimento não vão melhorar a situação).

Pois bem, foi o que aconteceu. Credo, que crise de risos mais insana e deprimente!
Estou estressada, com certeza. Prozac resolve?

E para quem quiser, segue a piada (com mesmos tipos, tamanhos e o quase mesmo fundo branco e sem graça):

Um cardiologista muito conhecido morreu.
Seu funeral foi muito pomposo e muitos dos seus colegas
médicos compareceram.
Durante o velório, um enorme "coração"; rodeado de coroas
de flores permaneceu atrás do caixão....
Após as últimas palavras do padre, o coração se abriu e o
caixão entrou automaticamente no enorme coração,
emocionando todos os presentes.
O coração então se fechou, levando no seu interior o famoso
médico para SEMPRE...
Um dos presentes explodiu na gargalhada, causando surpresa e
indignação.
Questionado por que ria, ele explicou:
- Desculpem-me... Por favor, desculpem-me... É que eu
estava pensando como seria meu próprio funeral...SOU
GINECOLOGISTA.
Nesse momento, o proctologista desmaiou....



Deixo claro que mesmo assim, adorei ter recebido a piada via e-mail. Foi bom perceber o quanto tenho andado tensa. Obrigada, meu amigo.

24 agosto 2009

Fôlego

Quase não pôde com a agonia.
Quanto mais inspirava,
menos o corpo sentia.

22 agosto 2009

Mórbida

De tanto que trabalhou,
não sustentou o próprio corpo
e adormeceu sob o metrô.

21 agosto 2009

Credo

Jurava que ia dar certo.
Pôs a cara a tapa.
Se espatifou no concreto.

20 agosto 2009

Poeminha

Não pensou que seria assim.
Mas dançou com Pierrot
e fugiu com Arlequim.

19 agosto 2009

Rapidinha

Tardou em pensar naquela vez.
Delirou a tarde inteira e
do diário se desfez.

18 agosto 2009

Poema

Traído, matou com requintes de crueldade.
Tomou-lhe a mãe, a prima e o amante.
Gostou de verdade.

15 agosto 2009

Porque toda mulher tem seu dia de Miss










Miss confort, miss peace, miss my feet, miss my tenis, miss everything I like a lot.

10 agosto 2009

Sobre a incerteza

Chegou em casa desesperado. Subiu dez lances de escada como se ainda tivesse 15 anos de idade. Quando viu a porta, travou. Agora não queria entrar. E se não gostasse? E se fosse pior do que a encomenda? Como ia lidar com aquela novidade? Não, ele não podia entrar.

Sentou diante do elevador que só agora lembrava que já foi consertado. Sentiu a respiração pesada e os pés quase o matavam dentro do sapato apertado. O cansaço veio de uma só vez. A sede o consumia, mas ainda tinha medo de entrar. Passou meia hora dialogando com seu dilema. Se entrasse poderia jogar abaixo anos de planejamento, se não entrasse, ficaria eternamente tomado pela incerteza. Só estranhava tamanho silêncio. Em meia hora sentado no chão, diante do elevador, não percebeu o menor movimento em todo o prédio. As ferragens do elevador não rangiram uma vez sequer. O vento não zuniu pela janela do corredor. Muito estranho. Decidiu por fim se levantar.

Decidiu tarde. Agora seus 55 anos lhe traziam uma nova companheira. A hérnia de disco manifestou-se como quem queria lhe arrancar todas as vértebras do corpo. O homem agonizou em silêncio, pensava no dilema, não podia estragar o momento com seus berros.

Mão esquerda na parede, mão direita no joelho direito semi flexionado, cabeça baixa, lágrimas correndo, pé esquerdo ainda decidindo se ajudava o direito ou se o puxava de volta. Definitivamente não era essa a cena que ele previa ao chegar em casa. Sequer chegou em casa. Não movia um centímetro além dos que seus músculos involuntariamente atingiam com seus espamos de dor.

Tinha certeza que essa dor seria capaz de levá-lo a coma, mas não agora. Agora o homem pensava na porta, no silêncio, no dilema, nenhuma dor lhe pungia mais do que a incerteza. Mas como chegar lá? Como descobrir? como sair dali? Sentar, ou levantar? Não fazia idéia do que lhe traria mais dor. Na dúvida, escolheu a gravidade.

Não faz idéia do barulho que provocou, nem do quanto gritou. Não ouviu nada, não viu nada, apenas sentiu a pior de todas as dores que poderia sentir em toda sua vida. A cabeça curiosamente doía sem ter sofrido o menor impacto. As mãos, seus pés, todos dormentes, apenas a coluna e a cabeça, juntas e solidárias, pungiam de modo alternado como uma sinfonia agonizante.

Podia agora pegar seu celular na maleta, ligar para a ambulância, ligar para a casa, ligar para o diabo que fosse, queria sair dali. A filha logo apareceu pela maldita porta. Fazia perguntas quase no mesmo ritmo que sua coluna, quase matando o homem de desespero. Ligou para o médico e trouxe o remédio da mãe, que já era íntima da situação. Levou seu pai para o hospital da irmã. Sim, era mesmo uma hérnia e tanto. Faria cirurgia em breve.

Morreu dormindo um dia antes da cirurgia. Nervosismo sabe-lá-Deus-de-quê, dizia o enfermeiro enfurecido com o paciente que lhe foi destinado.

- Doutor, o cara ficou louco! Só falava em ir pra casa, pra ver não-sei-o-quê. Pediu até para eu ir no lugar dele. Perguntava a hora a cada cinco minutos. E pior, queria a qualquer custo que eu arrancasse a porta do quarto, vê se pode!

04 agosto 2009

Amor d'além mais

O que fazer com essa agonia?
Quanto mais tenta, mais se eterniza.
Rola na cama, compra bebida.
Desorienta. Chora. Ria.

Cada dia pensa num meio,
de controlar o devaneio.
Não para, nem dorme direito.
Desde que ela interveio.

Já não pode sequer pensar.
Volta toda a nostalgia.
Essa menina não mede o estrago.
Não ajuda, hipnotiza.
Destrói mais um tranquilo lar.
Derruba mais uma ideologia.

Caminha soturno. Soluça profundo.
Vive frígido. Dorme infeliz.
Matou seu amor por uma meretriz.

Coleção Pingos de Quê - by Magaliana