07 janeiro 2010

Canção pra Clementina

Logo na primeira vez,
olhou e fez pouco caso.
Parecia tão desgrenhada.
Não tinha sequer rebolado.
Chamou o mais próximo amigo,
curtiu com a tal menina.
Sorriu feito bode velho e
foi-se levando a rebeldia.

Passou e causou pelas ruas.
Se deu todo à boemia.
ficou ali pela praça, até o raiar do dia.

Esbarrou na segunda vez.
Estava bêbado e chateado.
percebeu o seu decote e
viu o novo penteado.
Sentiu perfume, mas estava enfesado.
Riu de novo da mulher.
Xingou de modo mais baixo,
E rinchou alto feito um asno.

Bebeu veloz tudo o que viu.
Que com tamanha foi a mistura,
Acordou pelado, com frio, no meio da rua.

Ao vê-la mais uma vez.
surgiu um novo fato:
Parou e fitou tanto
Que ficou com olho esbugalhado.
Estava tão diferente.
Tão bonita que chega refletia.
Não tinha ainda o tal rebolado.
Mas cantava, que ele chega tremia.

Saiu tão transtornado
que toda a cidade lhe ria.
Dormiu tão pesado nesta noite, que quase não vê o dia.

Voltou logo no dia seguinte,
Seduzido por tão bela cantoria.
Passou por uma butique.
Comprou o vestido mais caro.
Trazia-lhe ainda alianças
e um buquê de Flor de Março:
- Sereia case comigo,
pois hoje sou seu escravo!

Metade da cidade correu,
outra metade sorria.
O errante boêmia entrou na linha.

A moça lhe apareceu com olhos aboticados.
Estava mesmo linda, cheirava bem como orvalho.
Mas a expressão era dura
e o rosto sombreado.
Nenhum sorriso lhe cedeu.
Sentou-se bem ao seu lado.
Não se importou com os deboches.
Nos braços do amado, morreu.

2 comentários:

Formigando disse...

Gostei... uma certa inversão de valores... inversao nao... uma mudança de ponto de vista.

Pena que rolou uma morte aí. Os póbi.

bjo

Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.

Coleção Pingos de Quê - by Magaliana