02 maio 2010

Amizade de mulher

– Tá na cara que esse sem vergonha não quer papo por que tem outra!

– Deixa de conversa, menina. Ele tá cansado. Trabalha muito, gente importante. Vai ver, tá juntando aí o dinheiro pra vocês casarem!

– Acorda, criatura! Desde quando homem faz de meta casamento?! Isso é coisa pra mulher! E eu pelo menos num conheço uma pessoa importante que trabalhe de verdade... Você tem é que acordar pra vida, vive vivendo aí seus romances imaginários que num saca a realidade. Você precisa de um homem de verdade para ver como é a vida... Mas voltando ao que interessa, aquele praga, me paga! Ah, se paga!

Assim, já dolorida, a amiga que ouviu meia hora de lamúrias, desliga o telefone. Como se não bastasse ter que ouvir um "colecionadora de ossos" ambulante reclamar do canalha que namora, mesmo sabendo quem é, ainda tinha que ouvir essa masoquista vir falar que ela era encalhada e alienada?! Ser mulher já é negócio difícil, ter que aturar outras então, não tem quem aguente!

Foi pra cozinha se empanturrar de brigadeiro que fez pela manhã pra afogar às mágoas que nem eram dela, e descontar a raiva da amiga na colher e na obturação, mordendo o instrumento ferozmente.

– Ela tá pensando que é quem, afinal? Fique lá se achando a poderosa do pedaço com seu status "namorando". Ligo não, são as amigas dela que conhecem o namorado dela bem melhor, no fim das contas! Fica dando uma de puritana moralista que acaba perdendo o melhor do namoro, e ganhando o pior (chifre, não preciso explicar o melhor, né?)!

– Deixa, pode ficar com seu status que eu prefiro a experiência. Fico com minha vidinha sem status. Ela é perfeita quando não estou afim de pagar as contas mesmo! Faço um charminho bebendo uma água, e pimba! Vem um infeliz qualquer achando que tem chance pagar uma bebida cara (que muitas vezes tirou da mesada que a mamãe ainda dá!). Converso uns trinta minutos, que é o que a paciência permite e pronto, ele paga a conta. Vidinha boa aperriada.

Pensou por uns quinze minutos em ligar para a tal "amiga" para dizer uns desaforos. Não daria nome às santas responsáveis pela angústia da "namoradinha infeliz" pois teria que se entregar também. Ela não queria isso, não ainda, queria ver a amiga sofrer primeiro, acreditando nela por tempo suficiente para apreciar a vingança. Pensou se não seria conveniente ainda namorar o canalha só para esfregar na cara da agora inimiga quem é ingênua de fato, mas herdaria a coleção de chifres, e isso ela definitivamente não queria.

Deixou para lá, acabou o brigadeiro. No dia seguinte voltou a praticar natação para eliminar aquele brigadeiro maldito que a amiga fizera consumir (claro que ela culpou a outra, qual o problema?). Volta e meia encontrava com o tema do telefonema. Um affair bem interessante: piscina, vingança, banheiro feminino, fruta proibida...

No mês seguinte a amiga ligou de novo. Uma hora no telefone de desculpas e solidarizações:

– Ai amiga, vem para o meu aniversário amanhã, vem! Não vamos mais brigar não. Homem nenhum pode nos separar. Mas deixa eu dizer, ele está tão mudado, tão atencioso, tão prestativo.

– Claro, amiga, você está certa. Ah, é?! Que bom, amiga, você merece o melhor!

– Pois pronto, lhe espero amanhã, viu?! Beijo grande, amiga! Te amo muito, esteja sempre certa disso! Ah! Ele falou que você está na turma de natação também! Que felicidade amiga, é bom perder os pneuzinhos, né? Eu também vou entrar na turma, estou me sentindo uma baleia!

– Ah, foi, pois é! Que bom, então. Deixa disso que você é linda! Tchau amiga, eu também, te amo, viu? Até amanhã.

O telefone desliga.

– Agora lascou tudo! Aquela frígida acabou com o meu negócio! Eu mato o Ricardo. Ah, se mato!

2 comentários:

Formigando disse...

KkkkkKKKk... amizade de amiga pode ser renomeada como Amiz'ARDE'

ou 'ARMI'zade!

rsrsrs

=P

luiz caju disse...

É sério pow. Você é cruel.

Coleção Pingos de Quê - by Magaliana