01 outubro 2009

Voo 7452 - De repente Natal...(parte 2)

As cadeiras de metal, não possuiam qualquer conforto, nem mesmo uma almofada que amenizasse o frio que o metal conduzia rapidamente das muitas cadeiras próximas de cada portão de embarque. O saguão era grande, possuia pelo menos 11 áreas cheias de cadeiras como essas, mas com quase ninguém, seja funcionário, seja passageiro.

Além das áreas desérticas, bastante semelhantes àquelas onde Tom Hanks passou "cerca de um ano", em sua personagem Viktor Navorski no filme "Terminal" (só que pior, os jovens não teriam tanta autonomia para criar uma bela fonte construída com pedaços de azulejo, não mesmo), haviam as lojas, conhecidas como Free shop, decoradas com enormes cifras americanas, vendendo basicamente: chocolate, alfajor, itens esportivos, malas, cosméticos e cds de tango, em dólar.

Obviamente esses espaços "canibalisticamente" capitalistas eram povoados por seres semelhantes a pessoas, mas que, como os seres anteriormente encontrados, não tinham a menor noção de comportamento social, etiqueta ou direitos humanos. O rapaz, mais acostumado com aquela sonoridade enrolada e ríspida tentou um contato amigo. Pediu que alguém dissesse uma simples informação: onde comprar um cartão telefônico internacional ou trocar notas de pesos por moedas para usar os orelhões. Depois de dar duas voltas completas em todo o saguão (sim, ele era grande) os exaustos, já apresentando os primeiros sinais de sujeira nas roupas, os jovens encontraram o tal lugar. Após muitas tentativa de ajuda com relação a algo simples como o procedimento para ligar em um orelhão na argentina e ter como resposta um não sei bem ao estilo porteño de dizer "se vira idiota", o rapaz e a garota desfrutam dos primeiros raios de esperança.

A lan house não tinha o cartão telefônico, até porque, que graça teria se as coisas já começassem a dar certo? A história não renderia tantas partes, e certamente, o homem e sua companheira não teriam finalmente encontrado... uma mulher. Sim, finalmente encontraram um espécime vivo e lúcido de ser humano, com toda a capacidade cognitiva e requisitos mínimos para ser considerada humana: tinha sentimentos. Infelizmente a garota e o namorado ainda não tinham seu cartão em mãos para poderem finalmente se comunicar com sua família, explicar como estão, onde estão e porquê.

Contudo, agora o casal tinha em mãos dois pesos em moedas, dados pela bondosa e até assustada senhora do balcão da lan house, que permitiu finalmente que esses aventureiros ligassem para a empresa de turismo que acidentalmente os colocaram naquela saga, e para o Consulado Brasileiro na Argentina.

Neste momento, já se passavam duas horas desde a última vez que tiveram algum contato com um funcionário, seja brasileiro, seja da Gol. Conversaram com o vice presidente do Consulado. Tinham duas saídas, ou embarcariam no voo mais próximo para o Brasil, ou pediriam a alguém da família que enviasse algum documento que o identificasse.

Com essa informação, o casal buscou novamente funcionários da Gol para negociar essa possibilidade. Contudo, não diferente das situações anteriores, não havia um funcionário que os ajudasse nessa busca. Desesperados novamente, o casal sorrateiramente entrou em uma porta de acesso restrito, onde uma nova mulher de cabelos encaracolados e olhos expressivos (sim, outro espécime de gente habitava o lugar), assustada com as caras de terror estampadas nos jovens, resolveu ajudá-los. Ela contactou os funcionários da Gol para que viessem o quanto antes conversar com um casal perdido no saguão de embarque de voo internacional. A garota começava a passar de seus limites de otimismo, chorava copiosamente a cada obstáculo que aparecia. Não tinha mais forças. O rapaz, ficava "fora do ar" seguidas vezes, com olhar distante sem saber o que dizia, por sorte ou não, exatamente nos momentos em que a garota retomava seu juízo.

Passados trinta minutos, o tal funcionário aparece. A mulher do cabelo encaracolado segue seu rumo para trabalhar novamente e trava-se a conversa com o funcionário. Uma vez esclarecida a situação, novamente a informação: eles teriam duas "opciones": voltar pro brasil ou pedir o documento via avión.

O funcionário saiu em disparada, alegando a necessidade de ir despachar bagagens de um novo voo que acabara de chegar, deixando o casal novamente abandonado sem sequer ouvi-los quanto a decisão, de ficar e esperar pelo documento, ou seguir para o Brasil. Mas como garantiu sua volta para 20 minutos depois e fora confirmada a possibilidade, as palavras soaram como música. Sim, havia essa possibilidade. A garota em sua atitude pateticamente apaixonada, havia guardado como souvenir a carteira de identidade antiga do seu namorado, com aquela carinha engraçada de 15 anos que ela não chegou a conhecer.

Imediatamente, seguiram para a lan house onde por sorte a "manicaca" conseguiu falar com seu irmão (Deus abençoe o MSN) que largou seu trabalho na mesma hora, para levar o tal documento ao aeroporto e enviar a documentação em mala direta ao aeroporto de Buenos Aires. O casal, agora esperançoso, cuidou de buscar o tal funcionário da Gol que obviamente não retorno nem em vinte nem em 60 minutos, para avisar que sua situação em no máximo um dia, seria regularizada. Bendito seja o romantismo desenfreado.

Continua...

(Apenas esclarecendo aos leitores, essa história é verídica e bem atual. Os personagens, como se pode imaginar, sou eu, Mariana Araújo de Brito, e meu namorado, Maurício de Figueiredo Formiga Júnior, que embarcamos ontem rumo a Buenos Aires, no voo 1804 daqui de Natal, pela Gol, para o pior pesadelo de nossas vidas... Essa é a primeira parte de uma crônica-protexto, que pretendo divulgar aos quatro cantos do mundo, para que todos fiquem sabendo porque - hoje eu sei - brasileiros odeiam os argentinos...)

2 comentários:

Formigando disse...

FDP's ... eles vao ver!! [2]

guabiras disse...

sei não viu,
mas sei lá

Coleção Pingos de Quê - by Magaliana