04 novembro 2009

Fim


Cansou. Deu um ríspido basta em todos os que a atormentavam. Nasceu. Descobriu por fim que todo mundo é passível de ser corrompido, de trair, de ser traído pelos seus princípios, e pior, de se tornar um completo idiota. Não havia muito o que fazer.

Partiu. Seguiu um novo rumo inimaginável, contornando fronteiras hostis entre o absurdo e o ofensivo, finalizando exatamente no meio do campo. Olhou para os lados na esperança vã de reconhecer algum rosto favorável. Percebeu contudo, que não tinha armas. Todos seus argumentos, mentiras e respostas prontas haviam acabado, só lhe restava o olhar.

Tinha olhos sanguinolentos, verdadeiramente assustadores, ajudados potencialmente pelos seus óculos brevemente caídos sobre o nariz. Havia também os dentes e sua voz extridente que ela não usava usar. Sabia que esses poderiam trazê-la mais inimigos. E ela era vítima, ao final de tudo, ela era a vítima, preferia se manter assim.

Então, curiosamente ajoelhou-se. Deitou sua cabeça sobre seus joelhos e chorou. tirou seus óculos, colocando-os cuidadosamente no chão, ao seu lado, abraçou seus joelhos, acolhendo-se e encolhendo ainda mais. Todos certamente ficaram pertubados. Não pensariam naquela reação em qualquer momento. Chorava silenciosa, não soluçava nem respirava muito alto. Apenas molhava seu moleton rosa claro denotando verdadeiro desespero, por fim, não era um crocodilo.

Passou-se meia hora e a situação se mantinha, como um quadro de acrílico no meio de um salão cheio de curiosos que nada sabiam sobre aquela arte, a arte de ser humano. Assim, finalmente seu herói chegou, quebrando todo o clima contemplativo e sádico, resgatando a pobre mocinha chorosa ainda encolhida naquele chão quente.

Beijou-a suavemente na testa, talvez a sensação mais reconfortante que ela pudesse sentir dali para frente. Levantou-a vagarosamente. Pôs a f'ragil menina no colo e a levou a cadeira mais próxima. Nada perguntava, apenas esperava aflito por alguma reação.

Finalmente, ela abriu os olhos, não mais aterrorizantes, nem assustados se era o que esperavam, apenas vermelhos. Olhou apática para o rapaz, deu-lhe um breve sorriso retomando em uma fração de segundo ao estado natural. Olhou para o lado, focando um rosto conhecido. Este, raivoso, nervoso, inquieto a fitava de volta. Retomou o olho para o doce rapaz, séria.

Olhou agora para o lado oposto, onde encontrava-se uma mulher, jovem, sadicamente risonha que também a encarava. Sorriu de volta, causando um desconforto descomunal levando a sádica aos prantos. Voltou o olhar para o doce rapaz, já não tão doce assim. Ela a olha assustado, reconhecia a situação.

– Pois é, eu sei. Eu lhe avisei para ser cuidadoso.

– Eu juro, não tive intenção.

– Tudo bem, eu também não tive – fala a debochada encarando o raivoso ali perto.

– Por favor, não faça isso. Pensa, por favor!

– Eu pensei, muito. Afinal, estão todos aqui, não é mesmo?

O herói veste-se de criança, e chora copiosamente sobre o colo da impetuosa mulher. Não leva muito tempo para que comecem a cair, um a um. Os mais resistentes, agitados, percebem então que estão trancados, e inutilmente brigam até a morte. Só mais cinco minutos, e abrirão os portões.

3 comentários:

Gaivota disse...

Minha amiga é genial! Adorei os escritos e estarei sempre acompanhando. Bjs

Formigando disse...

Danôô-se!
rsrs

luiz caju disse...

Pronto. Chegaram no inferno. =)

Coleção Pingos de Quê - by Magaliana